Artigo Original: Why Many Autistic Girls Are Overlooked
Autores: Beth
Arky, Wendy Nash, melissa, Susan Epsein
https://childmind.org/article/autistic-girls-overlooked-undiagnosed-autism/
É de conhecimento geral que há
mais meninos autistas do que meninas autistas. A pergunta que os cientistas
hoje fazem é: será que o diagnóstico das meninas está feito inadequadamente ou
o TEA afeta menos as mulheres?
Melissa, mãe de uma menina e um
menino autistas, conta sua história: minha filha tinha sintomas claros desde
seu 1 ano e meio de idade (atraso no desenvolvimento da linguagem, crises
intensas, girar em círculos, alinhas os brinquedos em fila (etc.), mas só foi
diagnosticada como autista aos 6 anos, depois de ser avaliada por diversos
profissionais. Já seu filho, que tinha sintomas bem menos aparentes, foi
imediatamente diagnosticado como autista pelo primeiro especialista que o atendeu.
“Um dos pediatras que atendeu minha filha
disse que não acreditava no autismo em meninas. Ele ficou tentando justificar os
comportamentos dela, falando que ela não poderia estar no espectro. Uma hora,
ele disse até que os atrasos na fala dela eram por conta de baixa autoestima! Nenhum
médico disse esse tipo de coisa sobre meu filho.”, conta Melissa.
O diagnóstico do autismo é feito
pela análise de dificuldades na comunicação, comportamentos repetitivos e
algumas complicações sensoriais. No entanto, de acordo com a neuropsicóloga
Susan Epstein, PhD, esses sintomas são comuns essencialmente em meninos
autistas, enquanto as meninas autistas apresentam outros comportamentos que
devem ser avaliados para o diagnóstico. Por conta dessa diferença de sintomas,
muitas meninas autistas são erroneamente diagnosticadas.
“O reconhecimento do autismo não
é uma tarefa simples para um olho que não está treinado. Além disso, como o espectro
foi ampliado, tornou-se mais difícil para diagnosticar pessoas que estão dentro
do espectro mas que são pouco afetadas pelo TEA”, afirma Susan.
A psiquiatra Wendy Nash afirma
que é comum que meninas autistras controlem seus comportamentos quando estão em
público, como fingir sorrisos, forçar contato visual e apresentar maiores
habilidades sociais. Nesses casos o autismo é um diagnóstico muitas vezes descartado,
já que elas não apresentam os sintomas comuns em meninos.
Susan complementa “As meninas
autistas não diagnosticadas muitas vezes sentem como se fossem diferentes de
suas colegas, mas mesmo assim tentam acompanhar o ritmo das outras garotas e
imitar seus comportamentos. Elas conseguem prosseguir com essa “estratégia” até
o ensino fundamental, mas em muitos momentos, no ensino médio, as diferenças se
tornam um problema.”
“Muitas vezes, as meninas crescem
sem diagnóstico e se perguntam o que há de errado com elas, o que pode acarretar
no desenvolvimento de depressão, ansiedade e falta de auto estima. Elas se
empenham em se encaixarem nos padrões neurotípicos de nossa sociedade, imitam
comportamentos sem realmente entenderem o que eles significam, e isso pode ser
realmente difícil a longo prazo.
A psiquiatra Wendy afirma que o
autismo leve em meninas pode ser identificado principalmente pela tristeza e
frustração decorrentes de dificuldades nas interações sociais. A depressão é
comum nos autistas de grau leve, então muitas vezes eles buscam um profissional
para tratar a depressão, e depois de alguma avaliação, descobrem que a causa
desse sentimento é a dificuldade sociocomunicativa decorrente do autismo.
Além disso, a doutora Susan comenta
sobre a importância do diagnóstico precoce para o início do tratamento logo na
primeira infância, já que seus resultados são comprovados. Uma vez que a
maioria das meninas é diagnosticada tardiamente, o tratamento na infância não é
executado, o que torna difícil a construção de habilidade sociocomunicativas na
adolescência e na idade adulta.
“As meninas que não são
diagnosticadas durante os anos escolares perdem a oportunidade de receberem
apoio adequado para o estudo de matérias que não são de seu interesse” afirma
doutora Wendy.
Infelizmente, meninas autistas
podem também sofrer bullying por serem “diferentes”. Susan afirma que a “inocência”
causada pelo autismo pode ser um fator de risco já que pessoas mal
intencionadas podem se aproveitar disso para praticarem bullying e até mesmo
abusos sexuais. A mãe Melissa conta que sua filha foi assediada por um garoto,
que, como desculpa, disse que não poderia ser punido pois também era
deficiente.
“Uma das maiores qualidades de
minha filha é sempre ver o bem em todos, até mesmo naqueles que são maldosos
com ela. Por isso, muitos tentam tirar vantagem dela, fazer bullying e ela não
reage.”
A doutora Wendy afirma que há uma
área da psiquiatria que está desenvolvendo pesquisas sobre a diferença do
autismo em meninos e meninas, bem como os diferentes tratamentos específicos
para cada autista. Acima de tudo, as meninas autistas precisam ser identificadas,
diagnosticadas, e isso requer uma sensibilidade maior dos pais, professores e especialistas.